Cansada de procurar quem deveria escrever nesse blog

By Manoela Nunes - 13:07


Estive pensando. Não quero ser a mulher que deixou em vida apenas cadernos espalhados com anotações de seus planos. Muito menos ser a que deixa seu celular desbloqueado, demonstrando a tormenta que deixou para trás, toda ilustrada nas dezenas de aplicativos sobre produtividade e resolução de metas. Todas incompletas. Não quero ser a que passou a rotina na frente de telas, buscando um tipo de conforto. Mas já não aguento finalmente conseguir uma folha de papel para escrever uma história importante e não conseguir.

Durante todos os anos de confusão da adolescência, corria para pegar a caneta. Escrevia com a emoção ainda em execução. Não perdia uma sequer palavra. Hoje, fujo das oportunidades em que posso me colocar em texto. Também não consigo escrever sobre nenhum outro alguém, nenhum outro lugar ou acontecimento. Sinto como se não tivesse opinião sobre mais nada. Não me reconheço ou estou buscando alguém impossível de recuperar? Se a perdi, perdi também os últimos quatro anos da minha vida, completamente obcecada na procura incessante.

Eu só queria mostrar para alguém de forma menos direta o que se passava na minha cabeça. Uma atividade prazerosa. Eu queria escrever para a internet em uma época em que isso não retornava em dinheiro ou em números. Fui me moldando e tornei escrever minha profissão. Não consigo ficar em silêncio comigo mesma, mas não consigo arrancar uma letra para tirar o entulho de angústias que se perdem em mim. Quando as encontro, é tarde demais. O circo todo já está montado. A encenação perfeita da mediocridade. Um choro na garganta pode durar semanas no mesmo lugar, mas um dia ele escapa. Meu trabalho diário é segura-lo o máximo de tempo possível, para que não atrapalhe nenhum outro afazer. Eles, todos ligados ao trabalho que escolhi. O mesmo que me apaixono todos os dias mas que também me traz culpa toda vez que quero relaxar, começar um hobby ou simplesmente contemplar o teto do quarto.

Interrompo as distrações mas continuo me julgando inútil. Sinto meu corpo caído todo o tempo em diversos lugares. A cabeça, para compensar, trabalha tão rápido que não consegue externar nada. Penso o quanto perdi sobre mim mesma enquanto rolava o feed e pensava que deveria estar produzindo meu futuro. Esses episódios duram umas cinco horas. Eu poderia atualizar o meu blog abandonado que de alguma forma ainda me liga com o sonho adolescente. Não sei exatamente como, já que só contém textos que fiz para a faculdade. Que idiota seria eu se colocasse um texto pessoal em um possível portfólio? Eu estou cercada de mostruários da minha capacidade profissional que absolutamente ninguém vê. 



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